terça-feira, 8 de junho de 2010

Critérios para especificação de cadeiras de escritórios

Quem passa horas diante do computador em uma cadeira inadequada pode sofrer consequências sérias, como problemas lombares, cervicais e nos membros superiores ou até mesmo deficiências na circulação sanguínea das pernas e dos pés. A boa cadeira para escritório é aquela especificada com base em critérios ergonômicos, de acordo com o biotipo de usuário, capaz de oferecer múltiplas opções de regulagem e alternância postural.

A escolha das cadeiras é um dos pontos decisivos dos projetos de interiores de escritórios. Chegar a uma solução adequada requer do especificador atenção para muitas variáveis, entre elas as condições ambientais e organizacionais, a compatibilidade com a estação de trabalho e com os equipamentos utilizados na execução das tarefas. O biotipo do usuário e a possibilidade de fazer ajustes e regulagens em acordo com os movimentos e posturas que ele adota enquanto trabalha são fundamentais, além do atendimento a normas técnicas, durabilidade do produto, facilidade de manutenção e de reposição de peças. Isso sem contar os aspectos relacionados a estética e custo. Especificações equivocadas significam prejuízos para o conforto e a saúde, com a consequente redução da produtividade e o comprometimento do investimento feito pelo cliente.

Em um mesmo escritório pode haver diferentes postos de trabalho para a realização de tarefas distintas, e isso eventualmente implicaria a necessidade de especificar mais de um modelo de cadeira no mesmo ambiente. “Não existe uma cadeira que seja boa para tudo”, alerta Carlos Maurício Duque, diretor técnico da DCA Ergonomia, empresa que realiza projetos nesse segmento, e professor de ergonomia da Universidade Paulista (Unip). Se o arquiteto sentir dificuldades para especificar ou se ficar na dúvida sobre qual o melhor produto para seu projeto, convém pesquisar nas universidades que possuem laboratório de ergonomia ou mesmo buscar consultoria especializada.

Os modelos indicados para escritórios, incluindo as cadeiras das salas de reuniões, são aqueles que oferecem possibilidades de ajustes e de alternância postural, o que evita o desconforto. “Antigamente as pessoas circulavam mais pelo escritório, levantavam para buscar um fax, levar algum documento para o chefe ou combinar o almoço com os colegas. Hoje, com e-mail e redes internas, quase tudo é feito por computador e a tendência que fiquem mais tempo sentadas em seu posto”, diz a desenhista industrial Maria Cristina Zamberlan, coordenadora do laboratório de ergonomia do Instituto Nacional de Tecnologia, do Ministério de Ciência e Tecnologia. Daí a importância de o conjunto estação de trabalho e cadeira ser ajustável a cada usuário. “Em um escritório encontram-se pessoas muito diferentes umas das outras. Algumas já têm mais de 50 anos, outras usam óculos, tem os de pernas curtas, tem os altos, os obesos. Cada um vai precisar de ajustes individuais no mobiliário”, ela completa.

Conforto no trabalho

Em termos de conforto, a boa cadeira permite que o usuário apoie os pés diretamente no piso sem pressionar a parte de trás das coxas, o que prejudica a circulação sanguínea. Bordas de assento arredondadas também evitam problemas circulatórios nos membros inferiores. As dimensões do assento devem garantir a perfeita acomodação de nádegas e coxas, deixando somente as dobras do joelho para fora. Já o apoio de pé é um mero artifício a que se recorre quando a mesa é alta demais ou quando a faixa de ajuste da cadeira não atinge a necessidade do usuário. No Brasil, o ideal seria ter regulagens para alturas de assento a partir de 36 centímetros, a fim de atender ao grupo de menor estatura ou pernas curtas. “Nossas normas ainda usam como referência dados antropométricos de outros países, o que não corresponde ao biotipo do brasileiro. Estamos planejando um levantamento antropométrico da nossa população, mas até que ele seja concluído, as normas deveriam incorporar os parâmetros já existentes”, afirma Cristina.

Quando a estação de trabalho é compatível com a cadeira e ambas estão bem ajustadas, braço e antebraço formam ângulo de 90 graus durante a digitação. Para garantir essa boa condição, os braços da cadeira não podem impedir a aproximação com a estação de trabalho. Se o braço fixo for alto ou muito comprido, a proximidade ficará limitada e o usuário será obrigado a se afastar do encosto para digitar, falar ao telefone ou fazer anotações manuscritas. “O ideal são braços curtos e largos e com possibilidade de ajustes de altura e também de largura, para acomodar pessoas mais obesas”, detalha Cristina.

Segundo Duque, as normas brasileiras exigem que as cadeiras com rodízios tenham cinco sapatas para garantir estabilidade. É importante que o revestimento do piso não dificulte a movimentação dos rodízios, o que pode exigir esforços e posturas incorretas do usuário. O assento deve ser liso, com leve inclinação para trás, e contar com, no mínimo, regulagem de altura. O ideal é que ofereça também inclinação positiva e negativa para garantir alternância postural, explica Duque. Deve ser obrigatoriamente estofado, pois aqueles feitos de plástico ou madeira não são apropriados para quem passa longos períodos sem se levantar. No estofamento, as espumas de maior densidade garantem mais durabilidade à cadeira. Para o uso do computador, o correto é que o encosto tenha altura mediana e seja levemente côncavo. É recomendável ainda ter regulagem para a altura do apoio lombar e permitir leve inclinação para trás.

Para os auditórios de empresas, são indicadas as cadeiras do tipo poltrona. Elas devem ser estofadas, ter assento liso com leve inclinação para trás e encosto mediano côncavo. Os apoios para braços devem ser planos, longos e, se possível, com altura regulável.

“Ninguém consegue ficar oito horas sentado, nem que seja na melhor das cadeiras”, diz Duque. Por isso os funcionários devem levantar e fazer pequenas caminhadas a cada hora de trabalho. Exercícios posturais para relaxamento da musculatura de braço e pescoço somente trarão bons resultados se o conjunto do mobiliário estiver corretamente especificado.

Evolução do mercado

De modo geral, a indústria brasileira ainda não oferece variedade de tamanhos no mesmo mobiliário. “No exterior, as cadeiras são compradas por tamanho P, M, ou G. O Brasil já conta com um bom parque industrial, mas ainda falta melhorar esse aspecto dimensional”, afirma Cristina. Segundo ela, a cadeira de qualidade custa mais caro e o preço tem sido impedimento para que esse mercado se desenvolva mais. “Precisamos ser criativos e buscar opções para baixar os custos por meio de projeto”, ela completa.

De acordo com Duque, o conjunto das normas técnicas brasileiras referentes a mobiliário para escritório está em um processo de revisão que vem avançando por tipo de móvel. Isso deve implicar mudanças nos padrões médios de mercado, mas ainda não há prazo estabelecido para a conclusão do trabalho. No caso das cadeiras, continua valendo a NBR 13.962:2006 - Móveis para Escritório - Cadeiras - Requisitos e Métodos de Ensaio, que especifica as características físicas e dimensionais, classifica as cadeiras para escritório e estabelece os métodos para a determinação de estabilidade, resistência e durabilidade.


Publicada originalmente em PROJETODESIGN

Edição 360 Fevereiro de 2010